quinta-feira, dezembro 18, 2025
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Artigo de Rodrigo Caggiano: O Brasil e o desafio de construir confiança na velocidade do mercado digital

Por Rodrigo Caggiano, Cofundador Mobiup

Nos últimos anos, tenho observado o Brasil se transformar em um dos ambientes mais
dinâmicos para a evolução dos ativos digitais. Um mercado que antes parecia experimental agora opera com estruturas mais maduras, volumes expressivos e crescente participação institucional. Essa transição, porém, torna evidente que há a necessidade de mecanismos de confiança que não dependam apenas de interpretações, mas de dados verificáveis em tempo real.

É por isso que vejo a ascensão da transparência contínua como um dos movimentos
mais significativos desta fase do mercado. Conforme avançamos para arranjos financeiros digitais, a lógica das auditorias periódicas se mostra insuficiente. A velocidade das transações supera a velocidade dos processos tradicionais de verificação, e a confiança delegada já não responde ao dinamismo dos riscos.

Para mim, a migração para modelos que integram dados on-chain e off-chain de forma
automatizada, permitindo acompanhar reservas, lastros e emissões com granularidade,
é uma mudança estrutural, não um ajuste incremental. As iniciativas recentes no país
reforçam essa percepção. A adoção de provas de reserva para stablecoins brasileiras,
agora presentes em plataformas e ferramentas de monitoramento, indica que o mercado está amadurecendo na direção certa.

Atualmente, até mesmo sistemas criados inicialmente para acompanhar emissões de
ativos tokenizados, passaram a incorporar esse tipo de dado, sinalizando um alinhamento entre agentes que talvez não existisse alguns anos atrás. Isso demonstra que a busca por transparência deixou de ser uma pauta isolada e passou a fazer parte de uma infraestrutura compartilhada.

Esse movimento se torna ainda mais relevante quando observamos a posição que o Brasil já ocupa no cenário global. Movimentamos US$ 318 bilhões em transações cripto entre 2024 e 2025, colocando o país entre os cinco maiores mercados do mundo, segundo dados do Jornal do Brasil – Informe Cripto (2025). Isso revela que temos uma oportunidade única de liderar pela transparência.

Em paralelo, stablecoins já representam até 90% das transações em cripto no país, enquanto a tokenização ultrapassa a marca de US$ 1 bilhão em 2025 – Be in Crypto (2025). Para um ecossistema dessa escala, a confiança não pode ser um elemento implícito, ela precisa estar embutida no design das plataformas. A transparência deixou
de ser um diferencial reputacional e se tornou um requisito fundamental para que o setor continue avançando de forma segura e sustentável.

Também enxergo que o Brasil possui uma vantagem pouco discutida: por ter um mercado digital relativamente livre de legados tecnológicos, conseguimos avançar mais rapidamente em direção a padrões de verificabilidade contínua. Isso nos aproxima de hubs globais de inovação financeira, mas com a possibilidade de construir soluções que dialogam com nossa realidade e, ao mesmo tempo, inspiram outros mercados

Ainda assim, não ignoro os desafios. Padronizar informações, garantir interoperabilidade entre sistemas, definir modelos de governança e criar estruturas de supervisão mais ágeis são etapas que determinarão o ritmo desta consolidação. Transparência não elimina riscos, mas cria um ambiente em que eles podem ser diagnosticados cedo, compreendidos com mais clareza e mitigados com maior precisão.

O que vejo emergir é uma nova lógica para a economia tokenizada; ou seja, um mercado em que verificabilidade e automação deixam de ser camadas adicionais e passam a compor a própria infraestrutura financeira. Se o Brasil mantiver essa trajetória, acredito que poderá exercer um papel relevante não apenas como usuário de tecnologias financeiras, mas como uma referência internacional na definição de padrões de transparência e infraestrutura para ativos digitais.

Pedro Fonseca
Pedro Fonseca
Jornalista formado pela UNESP-Bauru (2016-2019), com MBA em Negócios Digitais pela USP Esalq (2022-2024). Possui experiência como assessor de comunicação, assessor de imprensa, redator e locutor. Já atuou em iniciativa social e em agência de comunicação, lidando com empresas e personas das áreas de saúde, autodesenvolvimento, tecnologia, empreendedorismo, entre outras.
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